Para ganhar bem, segundo as consultorias de recolocação de executivos, é preciso ser homem, alto, magro, vestir-se bem, frequentar academia de ginástica regularmente e, principalmente, que não ter tatuagens ou piercings visíveis.
Pode-se buscar explicações as mais diversas, mas o importante é que essas orientações são elaboradas a partir de pesquisas realizadas com os empregados e os empregadores que compõe o mercado nacional, ou seja, são orientações baseadas na moda entre os empregados que recebem os melhores salários no Brasil.
Os reality shows, de certa forma, espelham essa realidade, todos, mas para facilitar a análise parece conveniente se concentrar no recém-encerrado "O Grande Perdedor" e no atualmente em cartaz "O Aprendiz 2".
O Grande perdedor é um programa de conversão de gordos, que devem se tornar magros para ganhar, é o que realmente importa, perder peso corporal em comparação com os demais e, talvez por ser conduzido pelo Silvio Santos, não sem um bucado de humilhação.
Já O aprendiz, que é conduzido pelo Roberto Justus, tem um carácter menor de humilhação do indivíduo, talvez mais por conta do estilo da produção que do argumento do programa, talvez, mas não é negável que as personagens de O aprendiz são o oposto das personagens de O grande perdedor.
As personagens de O Aprenziz estão sempre bem vestidas, bem apresentadas, talvez exatamente dentro da perspectiva que as consultorias de recolocação profissional traçam como o candidato ideal.
De um lado pode se observar a imagem do fracasso, que aceita o escárnio e humilhação públicos, de quem para vencer tem de se tornar menos pior que era em comparação com os demais, do outro a imagem do sucesso, que tenta se mostrar melhor que os demais em todos os aspéctos.
É a diferença que segrega, mas não apenas na TV, no quotidiano, quando não se atende ao modelo se está condenado a um posicionamento secundário, tal qual refletido nas pesquisas sobre renda de executivos, estes estão sempre mais dentro das normas que o resto da amostra.
E não é somente uma questão de peso, há inúmeras outras diferenças, sejam estéticas, sejam ideológicas, seja de sexo ou de sexualidade, seja de crenças, afinal não se formam as pessoas para valorizarem as diferenças.
O que será essa tal de educação para a diversidade?
Mas os que mais sofrem são os deficientes físicos. A maioria tem empregos de 6 hs porque seu patrão acha que ele não consegue trabalhar 8hs como qualquer outro. São telefonistas, recepcionistas e telemaketing e a maioria infelizmente fica assim por muito tempo. Isso está mudando, mas ainda temos um grande caminho pela frente.
ResponderExcluirAh, eu acho que todo mundo merecia emprego de 6h! 8h é demais, mal dá para aproveitar o sol do dia!
ResponderExcluirHahaha!!!!
ResponderExcluirTenho que confessar que estou adorando o anônimo participante. Concordo plenamente com você, acho mesmo que eu não sou capaz de ter realmente um bom rendimento oito hora consecutivas todos os dias.
Quanto a quem sofre mais acho difícil falar. Quem é pobre e não tem roupas boas tem dificuldade de frequentar espaços "públicos". Quem tem deficiência mental dificilmente pode estar no ensino regular, junto com as outras crianças. Os surdos têm dificuldade de acesso ao ensino superior. Os cegos têm dificuldade em achar bom material para leitura. Os gordinhos qualificados, com boa leitura, de conseguir um posto de confiança. As mulheres, tb qualificadas, com aperfeiçoamento constante, tem dificuldade de provar que podem ser mães e chefes dedicadas. Os feios têm dificuldade para conseguir uma namorada. Políticos tem dificuldade de provar que são honestos. As prostitutas de provar que sabem quem é o pai de seus filhos. E por aí vai...
Ou seja, não consigo defender a diversidade destacando uma parcela da população, por mais que tenha pessoas pelas quais sinto maior simpatia. Procuro sim, cada vez mais ter consciência dessas preferências pessoais para que, mesmo as pessoas que estão fora do meu círculo de "amizades", possam ser tratadas por mim com o respeito que todas merecem.
O programa "Aprendiz" é sim uma representação explícita da padronização estética (e subjetiva) pela qual o mundo dos neógicios, do escasso mercado de trabalho nos oferece. O simples fato de existir essa padronização pra quem quer ser executivo até que não seria problema se essas mesmas exigências não estivessem alastradas ao todo cojunto do mundo do trabalho.
ResponderExcluirE o grande problema é que a capacidade de resitir a essa pressão é cada vez mais problemática, tendo em vista a crescente dificuldade em se obter renda, tornando assim as pessoas mais reféns dos padrões estético hegemônicos e pelo fato de que a própria sedução fetichista expressos em programas como "O aprendiz", nas propagandas comerciais etc faz com que de forma massissa as pessoas se indentifiquem com aquelas estéticas como sendo as ideais. Já que elas estão justamente acompanhadas de uma série de outros elementos, como bem estar, auto-confiança, riqueza material etc.
Enfrentar essa colonização fetichista do imaginário, as relações capitalistas e a resignação subjetiva a esse quadro para mim se faz urgente.