E curioso o que pode acontecer se ao lhe perguntarem o que você faz, você responder que não tem uma profissão e que não trabalha, que também não é um estudante em sentido estrito e que seus pais não são ricos, mesmo que essa conversa se dê através de um bate-papo na Internet com pessoas que você jamais viu e provavelmente jamais verá novamente.
Rapidamente se forma uma manifestação do corpo social do bate-papo, como se fossem anti-corpos atacando a um micróbio, primeiro numa busca frenética de conversão da ovelha desgarrada à ética do trabalho e depois em um esforço dissimulado para afastar o inímigo comum, que de vagabundo passa num instante a delinquente.
É impressionante como está cristalizada a idéia que para existir é necessário se submeter ao trabalho, de forma que ou se é patrão, ou se é empregado, ou se é profissional liberal, mas é preciso se ter uma profissão.
Se não se nasce rico para se ser dono, então sendo dono de seu corpo é única opção arrendar-lhe aos que precisam dele para a produção, claro que há as pessoas que passam de uma função a outra, essas cumprem a função especial de legitimar o sistema.
Não é permitido se ser dono simplesmente do próprio corpo, sem lhe arrendar a quem dele precisa, mesmo que esse alguém queira lhe pagar muito menos que seu corpo vale, só por que há outros tantos corpos disponíveis, não é permitido que se usufrua do próprio corpo em benefício próprio.
Deve ser por isso que não se pode matar a si mesmo, que não se pode maltratar o próprio corpo, pois o corpo deve estar em bom estado para que seja produtivo. Deve ser por isso que não se permite fazer usos indevidos do corpo, por deve permanecer dígno de uso.
Foi com a invenção do fuzil que o corpo ficou importante? Houve algum momento em que quase não tinha valor, mas com a invenção do fuzil, o custo de um soldado aumentou muito, uma vez que não era tão simples manejar o fúzil quanto era a lança ou a espada, sendo assim não se podiam disperdiçar corpos como antes, pois mesmo que fossem baratos, demoravam a manejar o fuzil com habilidade.
Por que o corpo é ainda importante? Por que não se permite que se faça ao próprio corpo o que se deseja? Por que para se existir há de se exercer uma profissão? E se os impérios contemporâneos caissem como caiu o Império Romano no passado e uma nova "Idade Média" se instaurasse o que você faria?
Muito bom o texto.
ResponderExcluirTemos em nossas vidas diversos conceitos criados e impostos por aqueles que pensavam (pensam) somente em si mesmos.No passado desvalorizaram a nobreza (que também não era algo para se ter orgulho), atualmente o objetivo é desvalorizar aqueles que de alguma forma são diferentes.
Diferença principalmente quanto ao molde estabelecido.O qual tem como função substituir os objetivos projetados para alcançar sonhos pela voraz vontade de obter objetos. Se você não produz, se você não consome, então subsista para servir de alvo para conceitos distorcidos, que acabam por tornar-lhe exemplo daquilo que não se deve ser.
Certamente você pode fazer o que quiser com seu corpo. Aparentemente, sua preocupação é o comportamento - ou julgamento - dos outros indivíduos em relação às atitudes que você aplicaria a ele, correto?
ResponderExcluirQuanto à questão do trabalho, dê uma olhada em "Desemprego Feliz?". (o texto consta no cache do google; o do endereço original se foi)
Se eu lembrar de mais alguma leitura para recomendar, volto aqui.