16.8.05

O fascismo mora ao lado

O PT é tão útil ao establishment que é difícil acreditar que o governo Lula tenha terminado tal qual parece. Não que o PSDB não o seja, mas o PT tem, ou tinha, a vantagem de reforçar como nenhum outro partido a ilusão da democracia.

Há como se olhar para a toda a crise e encontrar uma grande vantagem com o otimismo de que se trata de um grande aprendizado coletivo, de maior envolvimento popular com a coisa pública, talvez até da descrença na representação.

A trajetória republicana do Brasil, entretanto, está repleta de ditaduras. Mal-sucedidas, que ao final prejudicaram a todos, inclusive às elites. Da última, herdamos o grande desafio da crise fiscal, necessária à manutenção do regime em seus últimos anos.

A grande possibilidade é que se encontre uma forma de contemporizar a situação, de amenizar o espetáculo e evitar uma crise de maiores proporções enquanto se minam as possibilidades de hegemonia do PT nas próximas eleições.

Um processo de impedimento tornaria Lula uma espécie de mártir, uma manobra arriscada, da qual se pode até vislumbrar o estabelecimento de um regime de fato, mas a questão é que o único nome forte é o próprio Lula, ainda capaz de aglutinar apoio popular.

Ainda há a recorrente e angustiante idolatria a Getúlio Vargas. Nenhum presidente foi tão noscivo às lutas populares e ao trabalhador quanto ele, mas parece que no Brasil todo político sonha em ser Getúlio, políticos de todos os naipes, talvez em busca de capitalizar o eleitorado fascista brasileiro, talvez até Lula.

É difícil creditar seriedade a qualquer possibilidade de golpe, apesar do recente aumento dos soldos depois da chantagem semi-declarada de reformados, que demonstrou fraqueza do governo. Sempre se reafirma a solidez das instituições democráticas.

Espera-se que as instituições democráticas sejam mais sólidas que o PT, até então um símbolo de sustentação dessas instituições, mas diante de tudo isso o que se pode fazer para garantir um futuro melhor para nossos filhos?

5 comentários:

  1. Acho que a melhor saída é politizar a população. Todos assistem aos acontecimentos no congresso como se assistissem à novela das 8. Educação e informação são as únicas saídas, sim, mas como fazer a população acreditar que ler e participar é o melhor caminho, quando se vê pela tv que jogando bola ou desfilando em passarelas pode-se ficar milionário? O inconsciente coletivo é poderoso, e como em todas as crises pode se colher algo de bom, acredito que este é o melhor momento de se transformar simples espectadores em participantes das mudanças políticas e sociais.

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  2. Olá, seja bem-vinda! Será que a democracia é assim tão diferente de novela assim? Será que não e tudo alguma forma de ilusão que nos mantém entretido?

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  3. Oi, Anjo Mecânico. Obrigada pela acolhida. Encontrei o blog no orkut, num comentário feito na comunidade anarquismo. Respondendo à sua pergunta, é triste, mas tenho medo de acreditar que a democracia por aqui seja apenas uma forma de entretenimento. Ainda não sabemos fazer valer nossos direitos e acabamos por viver a vida da maneira como ditam aqueles que chegam ao poder. Contraditório, não? Se na democracia o poder é do povo, então porque deixamos que uma minoria nos escravize como um rei que cobra impostos para alimentar a festa dos nobres?

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  4. Penso que o Artigo do dia 30 de julho pode trazer algo bem interessante sobre isso, especialmente a citação do Chomsky: "For then [brazilian bishops], democracy means that citizens should have the oportunity to inform thenselves, to take part in inquiry and dicussion and policy information, and to advance their programs through political action. For us [at USA] democracy is more narrowly conceived: the citizen is a consumer, an observer but not a participant. The public has the right to ratify policies that originated elsewhere, but if the limits are exceeded, we have not a democracy, but a 'crises of democracy', which must somehow be resolved."

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  5. A dificuldade em analisar o que acontece hoje reside, entre outras coisas, na continuidade de uma visão do tipo 'ou isso ou aquilo'. Se por um lado Lula é útil ao pensamento dominante, por outro, é também um perigo potencial. Esta aparente contradição é o que dá movimento à história toda. O final? acho que cabe aqui uma leitura do 18 brumario de Luis Bonaparte antes de qualquer tentativa de previsão :)

    abraço,
    Su :)

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