13.8.05

Lula versus Duda

Duda Mendonça é um homem de comunicação, um homem pragmático de comunicação, um homem brilhante, um excelente propagandista, alguém que não acredita na teoria da bala mágica da escola funcionalista clássica estadunidense.

A escola funcionalista é a base para a propaganda política contemporânea, que se iniciou com a perspectiva da bala mágica, que superestimava o poder da propaganda na guerra, considerando que a mensagem dos media seria absorvida pelas massas.

Lula é um político, também um homem pragmático da política, também um homem brilhante, mas é menos competente como propagandista que Duda, isso explica por que Lula só chegou à presidência quando contratou Duda. Lula, ao que parece, acredita na teoria hipodérmica, da escola de Frankfurt (Alemanha).

A teoria hipodérmica é, simplificando-se as coisas, similar à teoria da bala mágica, seu nome se deve à metáfora usada para explicar a ação da propaganda, que, também superestimando o poder dos media, acreditava na injeção subcutânea das mensagens, daí hipodérmica.

Duda quando se pronunciou à nação, uma vez que os depoimentos nas CPI estão sendo transmitidos ao vivo em cadeia nacional, sabia que não bastava falar qualquer coisa, nem para os deputados, nem para a população, era preciso falar algo crível e, para isso, teria que se comprometer severamente, dada a gravidade da crise.

De forma alguma se pode pressupor que Duda tenha falado a verdade, apenas a verdade e, principalmente, toda a verdade. Duda não nasceu ontem, certamente não entregou tudo, certamente apresentou uma narrativa favorável a si.

Duda fez o depoimento com base nos princípios que, provavelmente, sugeriria que o presidente também o fizesse, pois o que se destaca em seu pronunciamento é que ele parece falar a verdade, os congressistas demonstram acreditar naquelas verdades e a população levou para dentro de suas casas a sensação de que aquela era a verdade.

Lula, por outro lado, deixou de incluir em seu discurso, em seu mea culpa, os elementos necessários a transmitir credibilidade ao seu discurso, não se comprometeu em nada, esquivou-se de todas as acusações e não trouxe nada de novo.

Não falou nem ao povo, nem às elites, nem ao PT e nem ao Congresso. Lula em seu pronunciamento deveria falar ao povo, aos demais se entende que a informação é privilegiada, que têm canal especial, que avaliam a importância do pronunciamento em seu reflexo junto ao povo.

Talvez o presidente deveria ter usado o Câmara dos Deputados para fazer seu pronunciamento à nação, afinal o Congresso é a “casa do povo” e nesse momento, o povo está “dentro” do Congresso, ou é a sensação que possui com a TV Senado.

Se Lula recorresse hoje a Duda Mendonça, ou outro propagandista competente como é Duda, poderia estancar a crise, bastaria “imitar” Duda, falar ao povo de forma crível, ao povo que lhe daria sustentação para concluir o mandato e se reeleger até.

O Presidente da República, entretanto, joga o jogo que lhe é “sugerido” pela oposição, finge que sofre a ação de um golpe das elites brasileiras e trata o povo como massa amorfa, como se seus propagandistas ainda estivessem lendo os clássicos da literatura sobre mass media.

O governo Lula é bom para as elites, funciona como uma válvula que dá vazão à pressão por transformação e, portanto, evita uma “explosão”. As elites não desejam isso, embora provavelmente se sintam mais confortáveis com um FHC do que com um Lula, mas Lula está se comportando muito bem.

Embora a eventual queda de Lula enfraqueça o movimento organizado de esquerda, também mina as ilusões da população na democracia e isso abre muitos caminhos, nem todos felizes para as elites, o ideal para as elites seria manter a situação atual: crescimento econômico favorável e movimentos sociais em simbiose com o Estado.

A situação atual em muito remete a Getúlio Vargas, em especial à criação do Ministério do Trabalho, da Carteira de Trabálho, da vinculação dos sindicatos ao Estado, do controle de Estado sobre os movimentos operários, do esvaziamento do confronto a partir da militância chapa branca.

Quem também poderia ajudar Lula, talvez sem nem querer, é o PSol, que propõe a realização de um plebiscito para decidir a permanência ou não de Lula até o final do mandato, essa é a solução ideal, uma válvula típica do parlamentarismo, que debelaria a crise em uma saída ou em outra.

Se Lula adotasse o “conselho” de Duda, o plebiscito proveria a formalização do apoio popular conquistado, que seria conquistado através de um discurso crível, fundado na verdade, mesmo que não composto apenas pela verdade e nem contemplasse toda a verdade.

Se Lula continuar jogando o jogo da oposição as elites devem sim se inquietar com sua falta de habilidade para gerenciar a crise e devem pressionar para que renuncie, ou iniciar processo de impedimento do Presidente, solução que não agrada a quase ninguém.

Lula, talvez, nutra a expectativa secreta de se tornar um novo Getúlio, mas mesmo para isso, tem de aprender um pouco sobre propaganda com o Duda. É preciso lembrar que Getúlio usava o Rádio através de seu Departamento de Informação e Propaganda de maneira similar ao espírito nazi-fascista da Europa.

Lula não deve ser considerado fascista ou nazista, mas houve uma limpeza geral da lembrança da população sobre Getúlio, que hoje é venerado pelas mais diferentes correntes políticas brasileiras, é quase uma unanimidade, esqueceu-se quase todas as atrocidades, especialmente contra o operariado urbano, em seu governo.

Nota: O autor se recusa a utilizar o termo marketeiro, derivado da expressão tosca marketing político. O que Duda Mendonça faz é propaganda política, talvez uma forma renovada de propaganda, com maior profissionalismo que outrora no Brasil, mas é propaganda. A principal razão para a recusa do termo marketeiro é que, derivado de market, iguala política a mercado, cidadãos a consumidores.

4 comentários:

  1. "A segunda justificativa está relacionada ao senso comum de que marketing não é uma coisa boa. Atribui-se a essa ferramenta de gestão um certo poder diabólico de manipular mentes, de criar necessidades para vender produtos que as pessoas não precisam consumir e de impingir a adultos pensantes idéias e causas de má qualidade. Consequência do poder nefasto que supostamente exercita na indução ao consumo, o marketing passou a ser considerado um ardil, tornou-se sinônimo de armadilha e transformou-se numa expressão viva do que é enganoso, vil e dissimulado". Terceiro Setor Planeajamento e Gestão, Ed Senac São Paulo.

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  2. Leonardo,

    Goste você ou não Duda Mendonça é marketeiro. O que você diria da ocasião em que ele induziu Maluf a declarar: "Se ele não for um bom prefeito nunca mais votem em mim" ? Ele faz muito mais que propaganda, suas ações vão muito além disso. Lula começou a perder quando contratou o marketeiro de Maluf. O resto está perfeito.

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  3. O marketing e a publicidade inegavelmente exerce influência nas escolhas, no consumo, no comportamento. A única defesa que nos garante não sermos enganados, é o conhecimento, é o saber.
    E, mesmo assim ainda corremos o risco de sermos traídos em nossas crenças. A questão foge do controle. Acreditar, confiar em alguém ou partido, ou grupo, ou idéia, é arriscar-se a decepção, afinal estamos lidando com o "demasiadamente humano" em todos nós.
    No entanto, permitir que o poder seja eleito pelo melhor trabalho de publicidade ou marketing, é "terceirizar a nossa democracia" e isso é grave!!!!
    Qual a saída? Retirarmo-nos da ignorância que explora e manipula nossas carências de cidadãos. Retirarmo-nos da ignorância, ainda que pretenciosamente, e com todos os riscos...

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  4. Infelizmente somos tão consumidores que esquecemos de ser cidadãos. Simplesmente trocamos nossos votos por um governo, o que acaba sendo uma negociação de supermercado. Não se tem mta opção, escolhe-se o candidato que está na prateleira. E tem-se que ficar com ele até expirar o prazo de validade, qdo se vai ao supermercado eleitoral outra vez e escolhe-se outro. Não tem jeito. O sistema político atual não dá mtas opções, porque quem vc escolhe para representá-lo vai, de uma maneira ou de outra, clandestinamente, agir em interesse próprio. Qual seria a melhor saída? Não somos suficientemente politizados a ponto de participarmos ativamente, até porque a ordem do dia sempre será o trabalho para garantir a subsistência e esquecemos que mtas de nossas dores estão diretamente ligadas às decisões do governo.

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