8.8.05

Paradoxos do poder

A economia dos Estados Unidos vai bem, tão bem que a crise política do Brasil não tem efeito sobre a economia brasileira. Lula, um "inimigo" histórios dos Estados Unidos, não deve sofrer impeachment, muito menos renunciar e, muito provavelmente, deve ser reeleito, em grande parte graças aos efeitos prodigiosos do crescimento da economia daquele país.

Os Estados Unidos estão puxando o mundo todo, o Brasil meio que se arrasta, bem atrás de países como China e Índia, cujas economias têm crescimento consideravelmente maior que a do Brasil, mas um mundo em crescimento implica diretamente em mais consumo de petróleo, o que beneficia a Venezuela.

A punjança dos Estados Unidos cria um paradoxo, pois à frente da Venezuela está Hugo Cháves, o maior inimigo dos Estados Unidos depois de Fidel Castro, naturalmente se considerando o "lastro histórico" do ditador cubano, e grande "amigo" de Lula, assim como é Castro.

Chavez está aproveitando a alta do petróleo, cujo preço mundial é puxado para cima pela alta do consumo nos Estados Unidos, para extender sua influência política e econômica junto aos vizinhos. Está investindo na Argentina, no Equador e no Uruguai e acaba de subsidiar petróleo para países pobres do Caribe.

Após fracassar ao tentar derrubar Hugo Chavez na Venezuela, os governo dos Estados Unidos está concentrado em Evo Morales, líder indígena que pode se tornar presidente da Bolívia nas próximas eleições e que ampliaria o bloco hostil aos EUA e aliado a Chavez.

O Estados Unidos investem nas relações com a Colômbia e na luta contra as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, as Farc, e sua suposta simbiose com o tráfico de drogas internacional, mas as Farc podem se tornar aliados importantes da Bolívia caso ocorra lá fenômeno similar ao que ocorreu na Venezuela.

O Brasil se mantém no piloto automático, em velocidade de cruzeiro. Há estreitamento ideológico entre Hugo Chavez e Lula, mas Lula se mantém dentro da expectativa do mercado internacional. Essa conjuntura pode auxiliar o Brasil em sua pretendida liderança dos países da América Latina, pois mantém os diálogos possíveis com os vizinhos e com o resto do mundo.

Uma América Latina unida, por sua vez, enfraquece o poder dos Estados Unidos na região. O cachorro morde o próprio rabo. Os efeitos hegêmonicos da economia dos Estados Unidos sobre o mundo significam o principal sustentáculo de seu principal opositor em terras próximas. O petróleo torna Chavez muito mais perigoso que Fidel, é a diferença entre o poder do petróleo e o poder do discurso.