4.8.05

Você sabe chorar meu pai?

É certo que homem também chora há algum tempo, isso se sabe, mas e pai? Pai sabe chorar? Não há uma resposta fácil, ou melhor, até há: homem sabe chorar e pai é homem, logo, cartesianamente falando, pai também sabe chorar, mas e se forem deixados de lado os simplismos que nos acorrentam?

Em primeiro lugar teremos que ter consciência que pai nem sempre precisa ser homem, pai pode até ser mãe, pois também pode a mãe ser na verdade o pai. Basta os dois trocarem de lugar. Será que pode? Que pode, pode, pois acontece, se é certo trocar é que não é fácil saber.

Fácil é perceber que a presença mais contínua, tanto do pai, como da mãe, tanto dentro da família como junto à escola melhoram as oportunidades para o bom desenvolvimento dos filhos e das filhas, afinal são três cabeças pensando em vez de uma, então, sendo como for, não há crise, a família apenas se reelabora de forma equilibrada, cumpre seu papel.

É mesmo difícil encontrar a diferença tão grande entre pai e mãe para além de um sexismo arcaico uma vez que os filhos e as filhas parecem esperar hoje, tanto do pai quanto da mãe que lhes sejam referenciais enquanto profissionais e enquanto cidadãos, mas e enquanto pai ou mãe, o que esperam?

O que é certo que não dá é pai ou mãe tentar ou obrigar o outro ou a outra a ser pai e mãe ao mesmo tempo, isso não dá, pois são necessários os dois para que possam se tornar três. A criança precisa perceber dois referenciais para que possa se perceber enquanto uma pessoa, pois se há apenas um referencial, a criança há de pensar que é apenas continuação, seqüência daquele.

E será que precisa a criança olhar para pai e mãe ao mesmo tempo? Pode-se deduzir que seria mais fácil poder contrapor um e outro, mesmo tempo e mesmo espaço, mas às vezes isso não é possível, pois esposo e esposa, qualquer um dos dois, pode desistir da vida em comum por qualquer motivo, até sem motivo.

Isso não deveria implicar em que pai ou mãe se separasse do filho ou da filha, que continuam precisando de ambos, mas não vai poder mais contrapor um e outro simultaneamente, vai ter alternar.

Pai e mãe precisam aprender meios de cooperar em prol de um objetivo comum quando são desafiados a compartilhar a responsabilidade de criar uma criança e assim ensinam suas crianças como podem resolver conflitos de maneira saudável.

- Mas pai, você sabe ou não chorar?

Chorar. Saber chorar o pai sabia antes de ser pai, até ainda sabe, já que não é pai todo o tempo, às vezes é namorado e namorado que se preza sabe chorar, mas como pai é difícil, afinal aprendeu a ser pai com seu próprio pai, que não chorava, então pai não chora.

- Pai, mas quando eu for pai, eu quero poder chorar, e se doer?

Ser pai exige atenção concentrada e focalizada aos atos e aos sentimentos da criança. O pai precisa estar sensível a todas as emoções que traduzem a singularidade do filho ou da filha. Precisa viver o momento de ser pai entregue por inteiro, pois nada adianta a proximidade, se esta é tão somente física.

- Concentrada e focalizada nos sentimentos?

- Sensível a todas as emoções?

- Entregue por inteiro?

- Então como pode um pai não saber chorar?


- Pai que é pai, então, sabe chorar!

É verdade. Sentimentos, emoções e entrega são motivos de alegria e de riso, mas também de tristeza e de choro. O filho ou a filha precisa de um convívio autêntico com o pai, pois o não chorar pode ser percebido como o oposto ao amor, que é a indiferença. É o convívio verdadeiro que permite ao filho ou à filha o amor e a segurança do pai.

- Olha que legal pai, a gente também pode sorrir e ter lágrimas ao mesmo tempo!