3.8.05

Qual papel ainda se espera da Amélia?

A maternidade permanece um instrumento de opressão à mulher. Solteira, unida ou separada, a mãe é pressionada ao cuidado exclusivo dos filhos, mesmo não lhe sendo mais a única responsabilidade, pois essa mãe é ainda mulher, precisa estudar e trabalhar e será cobrada pelos próprios filhos quanto ao seu desempenho social e profissional.

Há um sempre maior número de pais buscando mais espaço na vida dos filhos, sabendo que a realização dos mesmos, como pessoa, depende da sua realização como pai, tanto quanto da mãe, mas a grande maioria dos casos é de descaso para com a mãe e para com os filhos.

Não é falta de saber cientifico, nem mesmo falta de leis adequadas, pois as constituições da maioria dos países, inclusive do Brasil, conferem ao homem e a mulher plena igualdade de direitos e deveres em relação ao cuidado dos filhos, mas a pressão se concentra exclusivamente sobre as mulheres.

No fundo, a sociedade ainda atribui à mãe certo misticismo, como se pela gravidez e pelo parto se tornasse um ser especial, o que à primeira vista parece benéfico à mulher, mas ao fundo esconde a legitimação para o caráter opressivo da maternidade, pois se é pela gravidez pelo parto que se adquiri a competência para o cuidar dos filhos, então é só a mulher que pode fazê-lo.

Ao homem é reservado o papel de prover, mero provedor, de utilidade limitada ao valor do que ganha, se não ganha nada então é de praticamente nenhuma serventia, mas a mulher não participa desse jogo à força, ela consente, pede por ele, pensa mesmo que precisa.

É o poder que se estabelece através da sedução, do desejo, espécie de elogio interesseiro, repleto de más intenções, pois a mulher ainda terá que viver plenamente sua vida, em compasso de igualdade com seu companheiro homem, mas terá que carregar sozinha a responsabilidade pelo cuidado dos filhos.

É certo que esse esforço se deve ao papel da família na modernidade. A família, que antes era a representação dos laços familiares, que se referia tão somente à consanguinidade e às questões de herança e sucessão, passou a ter um novo sentido, passou a ser responsável pelo disciplinamento e pelo cuidado dos corpos dos filhos para sua serventia futura.

Terão serventia nossos filhos de hoje na sociedade de amanhã? Ciborgues e robôs em geral são muito mais disciplinados e precisos que os seres humanos. Qual o perfil necessário para o sucesso no futuro?