Há cerca de 20 anos o MDB representava a esperança, representava o futuro do Brasil, quando todas as apostas eram depositadas na "redemocratização". O MDB virou PMDB, que virou uma grande máquina eleitoral, um partido fisiologista.
É compreensivel que, tendo à frente um grande inimigo comum se aglutinem as mais diversas forças em uma oposição para o enfrentar e que, caído o inimigo o guarda-chuva perca sua carga ideológica e ocorra a desarticulação de suas forças.
Deve-se considerar também que MDB e Arena eram as únicas legendas permitidas durante a ditadura e, por conseguinte, as pequenas oligarquias municipais adotavam uma ou outra, quase aleatoriamente, para enfrentar seus inimigos locais, sem qualquer compromisso ideológico com a legenda nacional.
O PT também une sob seus guarda chuva um leque variado de forças, que também têm um inimigo comum, o político tradicional, as oligarquias que dominam o Estado. O PT nasce como alternativa ao fisiologismo no Brasil.
Constrói ao longo de 20 anos uma imagem fundada na ética, no compromisso com a democracia, com a honestidade e na participação popular para a admistração pública, representa a alternativa de mudança na forma de fazer política.
Lula então chega ao poder e, como uma sina, repete a história do líder polonês do Solidariedade, tão criticado pelo próprio PT e pelo próprio Lula. Chega ao poder através dos mesmos instrumentos que sempre criticou e condenou.
Faz política do mesmo jeito de sempre, chega ao poder como sempre, governa como sempre se governou, esquece a ética, a democracia, a honestidade e, principalmente, a participação popular. Opta, finalmente, pelo fisiologismo e pelo populismo.
O PT se esvazia 20 anos depois do PMDB se esvaziar, praticamente da mesma forma e provocando sentimento equivalente de frustração entre os brasileiros, que mais uma vez vêem suas esperanças de transformação se esvairem pelo ralo.
Agora, o PT também deve sofrer grandes perdas em seus quadros, assim como o PMDB. Ficam no partido os já assumidamente fisiológicos e aqueles que se vêem como dissidência, os quais lutaram entre si por mais 20 anos, assim como no PMDB até hoje.
Muito se fala no PSol como a nova alternativa, talvez com possibilidade de chegar ao poder também em 20 anos e o marco será a primeira mulher, nordestina tinhosa e destemida, a Maria Bonita do Parlamento.
Duvidaram do operário metalúrgico, migrante nordestino, que enfrentou ao mesmo tempo as corporações transnacionais e a ditadura. A ditadura se acabou, diz-se que por sua própria conta e erro, mas não se pode negar a importância do movimento operário.
As corporações transnacionais estão mais fortes e mais poderosas do que nunca, hoje os operários tem, provavelmente, menos força que tiveram na época que Lula era seu lider. É possível que os tempos sejam mesmo outros.
Lula é hoje símbolo de corrupção e está sendo julgado por aqueles que jamais conseguiu condenar pelos crimes que comete para chegar ao poder. Lula também se acabou e pode se dizer que também por sua própria conta e erro.
Antes se maldizia a morte de Tancredo, agora não se tem qualquer desculpa. Heloísa Helena daqui mais 20 anos?