7.8.05

Laranja só é azeda enquanto está verde

Lula está limpo segundo a Polícia Federal e a Abin publica a Folha de São Paulo. A "operação pente-fino" não encontrou nada que ligasse o presidente aos escandalos que monopolizam os discursos brasileiros nas últimas semanas.

É certo que não se encontre nada, seria displicência primária envolver o presidente diretamente, assim como ao José Dirceu, não se conseguirá provar ligação direta de Lula ou de Dirceu em qualquer esquema ilegal.

Quando os escândalos vieram à tona davam à entender que os homens fortes do PT eram além de governo, irresponsáveis e burros. Talvez houve certa aposta exagerada na inexperiência dos petistas com o poder, aos poucos as nuvens mais negras vão se desfazendo.

Até o empréstimo do PT ao Lula, de R$ 29 mil, difícil de compreender de tão pífio, foi avaliado como um erro contábil do partido. Se é ou não verdade, isso jamais se saberá, mas que tem surgido questões que beiram o ridiculo, tais como as gráficas que comprometeriam Tarso Genro, isso tem.

Algumas dessas denuncias assustavam qualquer pessoa que tenha experiência em gestão financeira, tamanha a ingenuidade atribuida ao esquema, mas à medida que o tempo está passando, o que parece é que os homens de poder no PT e no governo estão formalmente limpos e que as coisas só estão azedas por que laranja verde é azeda mesmo, mas pode ficar bem docinha depois de madura.

Quartelada?

Estranhamente, José Alencar, vice-presidente e ministro da Defesa, dibulgou nota informando que o presidente Lula autorizou o reajuste de 23% na remuneração dos militares, apesar da nota divulgada pelo Clube Militar, que através de eufemismos praticamente ameaçava o governo de quartelada.

Alencar diz que a decisão "representa considerável esforço para atender às justas aspirações das Forças Armadas" mas a impressão que fica é a de que o governo foi chantageado e cedeu a essa chantagem.

Além disso, quanto é que essa crise vai custar ao final ao Brasil? Afinal se está discutindo um valor entre 50 e 200 milhões, não é pouco, mas 5 bilhões ao ano é muito mais!

Os gastos com a manutenção da estabilidade, a maior divisão do poder administrativo entre as bancadas que vão colaborar com a governabilidade no final do governo e todos os "agrados" que se farão necessários devem comprometer ainda mais a situação fiscal no Brasil.

Talvez seja o tempo de que se reveja a questão do presidencialismo no Brasil, pois sustentar essa estrutura pode estar saindo muito caro, talvez o parlamentarismo realmente possa oferecer soluções mais baratas para esse tipo de crise.

Afinal o primeiro-ministro de fato caiu, se fosse também de direito a questão da legitimidade do governo estaria resolvida, não seriam necessários todos esses acochambramentos que hoje se fazer necessarios.

Passos maiores que as pernas

Cristóvam Buarque se diz frustrado com a chegada do PT ao poder, pois "esperávamos, por exemplo, que com a vitória do Lula o Brasil tivesse um imenso orçamento participativo", admitindo certa ingenuidade, talvez fingindo ingenuidade.

Não é possível implantar orçamento participativo na união e da união transpor esse modelo para os estados e municípios, o movimento tem de ser o oposto, o orçamento participativo precisa se iniciar pelos municípios, depois pelos estados, para então chegar ao executivo federal.

O sonho do PT é bom, mas exige participação e não há como contar com participação em nível federal, quando essa participação não acontece em níveis estadual e muninicipal. A intenção é perfeita, mas exige um interlocutor ativo.

Para realizar o sonho verdadeiro do PT seria necessário que a subida do PT ao executivo federal tivesse se processado ainda de forma mais lenta do que foi e que nesse período mais municípios tivessem contado com a experiência do orçamento participativo e outras formas de fomento à cidadania.

A partir das experiência locais é que se poderia amadurecer um modelo para o executivo federal. Chegando à presidencia sem essa sustentação nos municípios o que se tem de sociedade civil a nível nacional é inexpressívo.

Talvez esse primeiro mandato do Lula tivesse como objetivo tão somente eleger prefeitos e governadores pelo Brasil e não realizar tão grandes transformações, apenas talvez.

O que se deve atentar nesse final de governo Lula é para a questão da austeridade fiscal, que é fundamental para que o Brasil possa evitar uma grande crise pós-mensalão, com consequência para algumas décadas de estrada esburacada.